Começo meu relato dizendo que a ordem cronológica talvez esteja errada, e que essa foi a minha percepção de tempo e espaço. Mas não necessariamente segue de fato o tempo transcorrido real, e sim, como eu me lembro. Eu estava o tempo todo na minha “bolha”, de olhos fechados, e concentrada no meu corpo. Então podem ter informações não muito precisas!🙈
Domingo, 29/5/22 às 1:30h eu acordei com uma dor muito intensa e súbita no abdômem. Pensei: não é intestino, rim ou outro órgão, nem contrações de treinamento…
Fui ao banheiro e quando voltei senti a água escorrer pelas pernas. Era uma quantidade bem pequena e na hora achei que seria talvez uma ruptura parcial da bolsa.
Mas depois de alguns minutos, mais e mais água começou a sair.
Corri pra arrumar as coisas, e falei pro meu marido: minha bolsa estourou, vamos para o hospital.
Sorte que eu estava com um feeling que ele viria logo e já tinha arrumado quase tudo!
Enquanto eu pegava o resto das coisas, começaram as contrações. Inicialmente bem leves mas não muito espaçadas.
Eu tinha feito um curso de parto com a Thainy (doula amada) e já sabia o que esperar de cada fase do trabalho de parto.
Ao mesmo tempo que eu me sentia “segura” por ter o conhecimento do que viria, eu sentia um pânico e uma sensação de tristeza ao pensar: ok, to em trabalho de parto mas tá muito cedo meu Deus!
Eu estava com 34 semanas e 6 dias.
As contrações se intensificaram muito rápido.
Em 40 min de trajeto ao hospital, eu tive 20 contrações, de cerca de 1:30min cada.
Quando cheguei no hospital, eu mal estava conseguindo andar da dor e da frequência delas.
Dava pra ver a cara do Lucas de confusão, desespero por saber que estava cedo para ele nascer, por ter que me ver com dor, por não saber o que iria acontecer.
Como era “cedo demais” achamos que talvez seria o caso de que iriam me dar um medicamento ou me internar para “segurar” a gestação.
Aí foi quando o Lucas perguntou para a enfermeira e ela disse: ela vai ter esse filho hoje! Não tem o que fazer!
Aí bateu o medo, eu pensei: tá na hora!
Ele correu ligar para a Thainy, perguntar da minha médica (que chegou muito rapidamente e ficou o tempo inteiro comigo), preencher os papeis que em teoria já estariam preenchidos se ele tivesse nascido a termo.
Enquanto isso eu fui para a sala de parto. Era perto de 5h da manhã, e eu estava com 4cm de dilatação.
Minhas contrações estavam muito fortes já, com pouco intervalo entre elas (cerca de 1 minuto ou menos).
Comecei a sentir tonturas e náuseas, como se fosse desmaiar.
Já estava difícil de ficar com os olhos abertos. Era como se os estímulos visuais intensificassem a dor.
Chegou um ponto que eu pensei: ou peço anestesia, ou vou desmaiar e vou acabar em uma cesariana.
Falei pro meu marido que eu queria anestesia.
Ele me falou: “tem certeza? Porque você me disse que se fosse só pela dor, era pra eu não deixar você chamar o anestesista.”
Pensei: vai pra $&@*%# e chama logo esse médico! Mas falei: sim! Não vou aguentar!
Nisso chegou a doula.
E quase junto com ela, o anestesista também chegou.
Minha dor estava intensa e as contrações vinham praticamente seguidas, sem intervalo, portanto eu não conseguia ficar imóvel.
Não vi o rosto da equipe de anestesia e lembro só dele falar: se ela tomar anestesia vai ficar ótima e vai passar toda essa dor dela.
Para tomar a anestesia eu teria que sentar, ficar imóvel por alguns minutos e isso naquela hora estava impossível.
Meu marido e a doula me perguntaram mais uma vez se eu estava certa de que queria anestesia. Aí foi quando eu pensei: não sei. Sim e não.
Aí os dois falaram pro médico que eu não tinha certeza, e que o chamariam de novo, caso precisasse.
Lembro nessa hora que as palavras de encorajamento vindas da Thainy e do Lucas foram mega importantes. Porque naquela hora a possível solução para minha dor tinha saído da sala (inclusive um pouco mal humorado de ter ido à toa lá pro quarto, pelo que me falaram!).
Após a equipe de anestesia ir embora, a primeira coisa que a Thainy fez (do que eu me lembro, talvez ela fez outras coisas antes) foi perguntar o porquê da banheira não estar cheia! Eles avisaram que estava com defeito. Ela e meu marido trouxeram um balde e começaram a enchê-la manualmente.
Após o que parecia ter passado muito tempo (mas sabe-se lá quanto tempo foi…) fizeram outro exame (sempre com meu consentimento) e me falaram que eu estava com 5 cm. Aí veio a frustração e desespero! Como assim eu dilatei 1 mísero cm depois de taaaanto tempo! Eu me sentia mega exausta já, como se tivesse treinado com carga altíssima todos os músculos do meu corpo até atingir a falha. Lembro que quis chorar, gritar de raiva, pedir a anestesia, cesária, um bisturi pra eu mesma tirar o bebe de lá…
Foi quando a Thainy me disse: eu sei que você está cansada e com medo, é frustrante mesmo dilatar lentamente, mas você consegue, siga firme, eu e o Lucas estamos aqui com você, você consegue ir até o fim.
As próximas horas foram seguidas de dores intensas sem descanso. Fui pra bola, banheira, cama, segurei pano vindo do teto, urrei de dor, saiu mais água ainda, fiquei agachada, 4 apoios, deitada, enfim eu tentava achar uma posição de alívio para que eu pudesse descansar , nem que fosse por apenas alguns segundos. Sinceramente a única coisa que aliviava era a massagem nas costas que a Thainy fazia enquanto eu estava na banheira e na bola.
Além de tudo, a adrenalina me fazia tremer o corpo todo nos poucos segundos entre as contrações. Isso me causava mais cansaço ainda. Lembro de ter questionado o que era aquilo, e a médica explicou que era efeito da adrenalina, e para eu tentar respirar e relaxar o corpo.
Deixei meu corpo fazer o que era preciso, não dava pra respirar, e sim fazer um som tipo un urro. Durante as contrações, eu contraía todos os músculos do corpo. E me deu vontade de empurrar. Aí ouvi de alguém: não empurre, você não tem dilatação ainda pra isso.
Imediatamente comecei a contrair os músculos do períneo para “segurar” tudo ali dentro.
Nesse meio tempo, meu marido que estava o tempo todo comigo, saiu. A Thainy disse que ele talvez precisaria desse tempo, para respirar, recompor as idéias, acalmar a mente e o coração. Nessa hora eu abri meus olhos e não o vi. E na hora pensei que era porque eu estava transparecendo demais o sofrimento, ou que ele tinha atingido o limite do que podia aguentar ao me ver com tanta dor. Mas na verdade foi porque a equipe da pediatria chegou e explicou pra ele todos os riscos e possíveis cenários de ter um bebê prematuro. Sei que foi um baque pra ele ouvir tudo isso e imaginar a pior das hipóteses.
Sobre isso confesso que eu já sabia exatamente o que poderia acontecer (pois já trabalhei com bebês prematuros) mas tinha um feeling de que não seria o pior cenário, que tudo ficaria bem. O tempo todo, não importava onde eu estava, tinha alguém monitorando os batimentos dele. Eu perguntava se ele estava bem e a resposta era sempre positiva. Isso me acalmava de alguma maneira.
Não sei quanto demorou mas algum tempo depois me falaram: você está com 10 cm, pode empurrar quando quiser. A Thainy tinha me dito que a gente sabe exatamente a hora de empurrar.
Eu estava sem comer desde a noite anterior, e não consegui comer ou beber água. Mas nessa hora a Thainy me deu uma bolacha e disse pra eu dar nem que fosse uma mordida e beber um pouquinho de água. Isso também ajudou muito a recuperar um pouco da força.
E eu esperei até que veio a vontade. Saí da banheira e fui pra cama deitar. Essa era a única posição que eu tinha pensado em evitar durante a fase de expulsão, maaaaas o cansaço e a dor me levaram a adotá-la. E pareceu mesmo ideal porque pelo menos minhas costas estavam apoiadas.
Fiquei cerca de 1:30h no expulsivo. Toda hora que ia empurrar, eu contraía o períneo para “segurar” o bebe, em vez de empurrar. Aquilo foi me gerando mais desespero. Pensei: como assim uma pessoa como eu, super treinada, preparada fisicamente pra isso chega até aqui e não consegue?
Foi quando minha médica sugeriu me dar injeções de anestésico local nessa musculatura para relaxá-la e eu conseguir empurrar. Dito e feito. Após isso, de fato comecei a sentir que dava pra empurrar.
Lembro do meu marido falando: continua porque ele tem cabelinho, tô vendo a cabeça dele! (A gt se perguntava se ele is nascer careca.)
Isso me deu forças pra continuar. Mas de repente uma dor ainda mais forte! Foi quando a Thainy falou: você está no círculo de fogo! Está quase no fim! Força e empurra com tudo! Tá acabando, e você está fazendo um excelente trabalho.
Aí eu empurrei e empurrei até que ele nasceu! As 11:07, com 2,660kg, mesmo sendo prematuro! Lembro que quando abri meus olhos (depois de todo esse tempo fechados), vi os pediatras “guardando” os aparelhos de reanimação do bebê. Foi um alívio enorme, e apesar da exaustão naquela hora eu tinha toda a minha força para amar aquele bebezinho que estava nos meus braços! Foi mágico!
Enquanto os pediatras iam o examinando, “pari” a placenta, e fiquei descansando na companhia da Thainy, do Lucas, da médica, da enfermeira. Ninguém saiu de lá, e eu me senti muito acolhida e grata a cada um deles que estavam lá comigo durante todo o tempo.
Foi intenso, rápido até, sem seguir nada do que eu tinha planejado antes, sem fazer os exercícios de respiração, períneo, postura e etc que eu tinha treinado, foi incomum, dolorido, exaustivo. Mas eu só tenho boas lembranças, e tenho certeza que foi graças a esse acolhimento. A Dra. Roxanne, gineco querida que chegou rapidamente, ficou o tempo todo lá comigo, inclusive após o parto, que me ouviu e seguiu meu plano de parto, que me cuidou e respeitou o tempo todo, meu muito obrigada!
A presença da doula foi fundamental, eu não teria conseguido sem ela. Vi que vai muito além de um apoio psicológico. É físico, emocional, solução de problemas, atenção total e dedicação total para a mãe, inclusive quando o foco está no bebê, é um cuidado necessário que gera conforto e segurança. Obrigada Thainy querida, por tudo!
Lucas foi incrível, aguentou firme assistir a todo o processo, me deu as mãos o tempo todo, me apoiou, me cuidou. Não sentiu mas sofreu em cada uma das contrações junto comigo! Obrigada meu amor, você foi perfeito!